sexta-feira, 29 de abril de 2011

O Vendedor de bananas

Uma mãe relata angustiada que a repetência escolar do filho foi anunciada na 1ª reunião de fevereiro, porque o menino, do alto de seus 6 anos de vida, ainda não está alfabetizado.
Além da salgada mensalidade, ela contratou aula particular e fonoaudióloga. Falta a psicopedagoga e as sessões de psicoterapia, essas, certamente para ela.

O profissional de hoje tem que chegar cedo lá no topo, dizem os especialistas. Mas, que topo? Um recente concurso para garis do Rio de Janeiro recebeu inscrição de engenheiros, dentistas e outros profissionais de prestígio acadêmico, incluindo um portador de mestrado.

Moro em um bairro histórico onde residiram os construtores da cidade. Ouço cantos de galos e bem-ti-vis. Um oásis no deserto da Capital.
Num bairro antigo prevalecem idosos, com hábitos igualmente antigos.
Eles buscam o pão quentinho arrastando chinelas com meias de lã. Os legumes e folhas vêm da cesta do verdureiro. E as frutas, eles compram ali mesmo, na porta da padaria, de frente à casa lotérica onde pagam as contas do mês.

O vendedor de bananas tem um colorido carrinho de frutas: laranjas, caquis, cajus, ameixas, goiabas, peras, maçãs, cachos de uvas verdes e roxas, uma lata de jabuticaba temporã e bananas, sempre há bananas.
Enquanto aguardava a minha vez de escolher, fiquei observando as vendas durante uns 10 minutos. Os idosos, e outros nem tanto, pagavam-lhe R$10,00 - R$12,00 - R$15,00 - R$18,00 pela feirinha. Bem calculado, ele faturou nesse período o que muito brasileiro não recebe em um dia.

Não reparei nos calçados, mas sua calça jeans e a camisa rota não incomodam ninguém. Ele não tem patrão, nem horário rígido. Está sempre lá, de segunda à sexta e nas manhãs de sábado. É um homem bem humorado. Sua preocupação é posicionar as frutas entre a esquina e o meio do quarteirão.

Essa não é a única categoria profissional em relação informal bem sucedida.

Fiz as contas do faturamento mensal do pipoqueiro da igreja, ao lado da escola. Não deve ser menos de R$10.000,00. Diariamente são cerca de 6.000 potenciais compradores. A despesa extra é com o substituto, quando está passeando com a esposa, em viagens internacionais.

Trabalho ao lado de um pequeno Salão de Beleza. Estou nesse prédio há dois anos. Entre 150 pessoas, há muitas mulheres em horário variado. Para atender à demanda das novas vizinhas a manicure está agendando também às segundas-feiras, mas é difícil conseguir vaga. Ela gasta uma hora para cuidar de pé e mão. Vinte e dois dias de 8 horas/R$20,00 cada=R$3.520,00. Não é tão pouco assim.

Se tem uma coisa que gosto é de estudar, mas acho terrível submeter uma criança a regras tão inflexíveis, tendo como meta uma boa colocação profissional num desconhecido futuro mercado de trabalho. No mais, creio que podemos sorrir mesmo sem as parciais e intermediárias do duplex, o leasing do hidramático perolado e os vouches para o Reveillon em Paris.

E para dissipar o último preconceito, reza a lenda, que o pai do arquibiliardário armador grego Aristóteles Onassis começou a amealhar dinheiro vendendo bananas em um cesto de vime.


A partir de um certo ponto, o dinheiro deixa de ser o objetivo.
O interessante é o jogo.
(Aristóteles Onassis)

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