quinta-feira, 10 de março de 2011

Os canalhas também envelhecem

Quando eu era criança, meu pai costumava me levar como acompanhante ao Asilo dos Velhinhos da Sociedade São Vicente de Paula. O lugar se chamava "Vila Vicentina".

Lembro-me dos inúmeros quartos, com cerca de 3 a 4 camas em média.
os velhinhos que tinham alguma renda podiam ter mais privacidade e ficavam sozinhos.

Eu achava aquelas visitas um pouco surrealistas. Não conhecia o significado dessa palavra, mas a tradução do que sentia é isso mesmo, surreal.

Surreal para mim é um lugar onde segregam pessoas, seja sanatório, prisão ou asilo.

A Vila Vicentina era surreal.

Onde estavam os filhos e os parentes daqueles velhinhos, que sorriam como criança, quando recebiam a visita daquele estranho com aquela menina?

Por que será que existiam filhos tão maus e ingratos?
Eu nunca deixaria meu papai ali, sozinho, naquele lugar triste, todo pintado de cinza e sem quase nada para alegrar.

Alguns velhinhos sabidos tinham balas para me oferecer. Certamente prevendo que eu voltaria não por eles, mas por causa dos doces...

Quando meu pai adoeceu para morrer, eu e minha irmã revezávamos noite inteira nos cuidados. Recebeu o que tínhamos de melhor, amor. Fizemos o de sempre, todas as suas vontades e ainda foi pouco. Não é possível descrever a marca de paternidade santa e dedicada que recebemos dele.

Mas, não posso exigir de todos que façam pelos pais idosos o que fizemos
aqui.

Há muitas pessoas que carregam lembranças de verdadeiros demônios travestidos de pai. Há filhos que enxugaram as lágrimas e pensaram feridas das mães espancadas; outras e outros ainda guardam a revolta da violação sexual; alguns passaram fome porque foram abandonados; inúmeros ainda sentem o cheiro do álcool e ouvem o barulho da louça quebrada e dos palavrões sem censura; Sem falar das outras drogas. Na verdade, esses pais são a droga. É dura a realidade, mas não podemos nos enganar, os canalhas também envelhecem...

3 comentários:

  1. Outro texto leve, mas concordo em tudo contigo, apesar de que o perdão é a melhor saída. Porém, é dificil a tarefa de apagar as marcas que a violência deixa e a pior delas é a violência moral, desonra... A lei da semeadura é a mais justa de todas, a vida nos oferece de volta tudo que plantamos nela.

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  2. muito profundo o seu post.
    A tarefa e dificil mas nao e imposivel

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  3. Que texto triste...Eu já fui a muitos asilos e você os descreveu como ninguém. Quanta dor!

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